8.5.06

12

12.
A montanha é alta, porque eu estou cá, na planície nua, a olhar para ela, lá em cima. Mas se eu subir até ao cimo da montanha alta, então, sou eu a quem a montanha alta diz: «Tu és alto porque eu estou a olhar para ti, aí em cima».
Mas, como lá em cima está frio e eu não posso escrever porque fico com as mãos engadanhadas, prefiro ser baixo e sentar-me na planície nua e olhar a montanha, que não tem frio, lá no alto. E fechar os olhos, pensando estar lá em cima mesmo não estando. E ser pedra com veios de sangue verde e ter pêlos de musgo voltados para o sul a ver o Sol nascer e esquecer que vai ficar noite depois do pôr do Sol. E sentir a música do vento soprando nos meus pequenos cristais de quartzo.
Afago as pernas e os braços e penso ser montanha cá em baixo. Pequena. Mas montanha. Sem tentar explicar como é que isso acontece. Mas acho que isso não será necessário porque me basta estar aqui, e ser montanha. Nada mais: a montanha em mim e eu nela.
Se Deus não me fez montanha a culpa é dele. Também erram, afinal, os entes divinos. Mas eu não me importo, porque se quiser ser montanha sê-lo-ei mesmo que chova. Ou que faça Sol.