8.5.06

20

20.
Reparo que tudo aqui é quieto. Mas esta quietude, este estar parado das coisas, é vivo e crescente.O cheiro da terra, o seu húmus quebrado pelo arado, é a transpiração verde do mundo que vejo ao sair à rua.Os montes, as colinas, tudo sua uma felicidade calma. Eu respiro também, na companhia dos bichos que me olham.A minha mão está submersa no bolso do casaco e não vê as maravilhas que eu vejo. E sinto pena. Porque andar vestido é cegar o resto do meu corpo. É ocultar o mundo à minha pele... Só a minha cara é nua, e os meus pés. São eles quem melhor conhece as cores e a textura das pedras sobre a terra sulcada. São eles os comandantes deste corpo sobre o mundo. O meu rumo é o deles.A minha mão envergonha-se das unhas e lava-se em águas de torneiras. Quando toca, foge. E fico envergonhado do mundo porque ele não foge de mim, embora às vezes esteja longe do lugar onde eu queria estar.