8.5.06

19

19.
Notavelmente mais velho. Notavelmente outro. Eis a face pronunciadora de um tempo que passou. As rugas sob os olhos, na testa leve, no maxilar quebrado pela fala e o sorriso.
O cabelo solto e branco, penteado par trás como à procura de um passado sem nome, sem espaço.
Ah, estas rugas. Todo este tempo. Tanto. Tanto o tempo que há. Nem sei quanto. Ninguém jamais saberá.
Cansam-se os olhos e morrem as saudades da saudade. O tempo sobre mim, a chuva, os anos, as memórias. Todos os invernos. Tanto frio que passei e passo ainda. Ainda sinto, ao menos, o frio e o calor. Ou será a minha pele que se contrai sem que eu dê por isso?
Verte-se o silêncio sobre os olhos com o peso dos anos e dos dias. Serei ainda eu quem fala aqui?