8.5.06

14

14.
Estou sentado a uma mesa. Qualquer. Há livros de economia que alguém escreveu com o propósito de dizer que a economia existe. Encontro nestes livros a utilidade do que é inútil. Porque tudo existe e se manifesta e é, sendo, existindo.
Se eu quiser contactar com a economia, não a encontro nos livros, encontro-a no tempo que as árvores levam a crescer, no tempo em que há sede e nos momentos em que prefiro olhar a paisagem e consumi-la em vez de a pensar por palavras. Esta é a minha economia, a minha ciência dos olhos, o porquê dos meu respirar mais apressado quando me admiro com as coisas do Mundo.
Pudera eu ser todas as coisas e fazer-me reflectir no espaço por meio delas; renascer o meu corpo e florir sob todos os orvalhos de todas as primaveras.
Se as minhas palavras fossem verdes, eu seria o mundo. Todo da minha cor. O verde das palavras. O Mundo verde das frases e dos gestos.
Mas a minha posse é não ter nada. O que tenho é o que sou e o que quero ser. Eu e mais ninguém. E esta cor ninguém a quer e ninguém a dá. Por isso, por tudo isso, prefiro as palavras sem cor, que ninguém as conheça, sequer o nome. Nem o corpo, as formas ou a tonalidade do cabelo. Prefiro, sem mais, que o espaço ocupado das coisas tenha a cor que eu quiser delas e, querendo-as assim, e aceitando-as, que eu seja o que elas desejarem de mim. Sem mais.