8.5.06

16

16.
Se conhecer fosse acreditar eu não creria em nada.
O simples olhar as coisas, o ver, não me basta para conhecer. Devo tocar, cheirar, e tudo o resto, com a intenção única de chegar mais perto. É preciso contactar as células dos objectos e dos factos para os possuir verdadeiramente. E suar ao fazer isso, retirando de nós o que está a mais e recebendo o que evapora dessas coisas.
Conhecer é ler as verrugas na cara. Misturar os sabores, os tons, as texturas plurais do mundo, interiorizar as fobias e a calma quieta da paisagem -- o vento forte e o silêncio da noite.
Há naquela pedra mundos que nunca saberei. Fico triste por isso. Mas revigoro porque conheço outras pedras, que já vi, que já cheirei, que já invadi com os meus sentidos todos, com tudo o que é eu neste corpo. E corrijo-me se a pedra me ensina que me devo corrigir porque é preciso. E revolto-me se a pedra me diz que me revolte.
É bom aprender das coisas o que elas têm para ensinar. É ser-se coisa também. É ser-se ensinado sem regras de homens -- leis -- incompletas e falíveis.
Uma pedra não falha nem se engana. Porque o seu corpo de quartzo é a lição pura que nos fala dos dias e das noites, das chuvas e dos estios, das aves e das marés. Uma pedra é um pequeno mundo onde a areia mais pequena corresponde à mais alta montanha do universo. Se essa pedra é o Universo todo, eu serei pó, do pó desfeito dela.