8.5.06

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17.
Sou o definidor das substâncias que desconheço, e de todas as outras. Digo: «Isto é assim». E «assim» é, para mim, tudo o que digo assim ser. Se assim não fosse como me definiria?Não posso fingir o que me digo. Ou me invento as definições e, então, a ficção é real, ou tomo verdadeira consciência da verdade daquilo que me digo.Crio, invento, ideologias verosímeis para mim. Onde as vou buscar? Encontro-as no único local possível: nos impulsos desta Mãe Natureza que me envolve. A mim e a ti. Aqui não há a transcendência das coisas. O que é é-o simplesmente, sem argumentos nem falsas estruturas. Uma flor é uma flor, e essa é a ideologia que emana. Um riacho não deixa de ser ele próprio se o idealizarmos como um grande rio. A coisa ideal que ele poderia ser existiria somente se nos iludíssemos. E, ao fazê-lo, pensaríamos uma coisa que está na nossa cabeça e em mais lugar nenhum.Idealizar é pôr tudo dentro da cabeça e transformar, dentro de nós, o mundo verdadeiro em ficção. Idealizar é mentir à Natureza. É quase pecar. É pensar que -- com um mundo já de si perfeito -- há um mundo ou mais mundos melhores. É estar insatisfeito com o que se tem, com o muito que se tem, mesmo que esse muito seja apenas uma fome de mundos novos.