8.5.06

13

13.
O meu sono é igual ao das flores que baixam a corola e ficam à espera do dia de amanhã. O meu sono é quando os meus olhos ganham um peso estranho e eu não consigo ver nada. O meu sono acontece a qualquer hora. Porque eu não sei ler o relógio. Dizem que há tempo naquela máquina mínima. Digo mínima porque uma árvore é grande e uma montanha é mais pequena que o céu durante o dia.
O meu sono é esfregar a cara e bocejar dizendo: «Tenho sono». E mais nada.
Mas invejo as árvores que, quando dormem, não se deitam nem tampouco se tapam de cobertores. A sua cama é a terra, os seus lençóis são as nuvens e, por almofada, têm o resto da paisagem. Prefiro o sono das árvores. Por isso durmo ao relento. Para que o meu corpo crie raízes na terra, nem que sejam só umas ervas marcando o lugar do meu repouso.
O meu sono. O meu sono é acordar e ver que o mundo está na mesma, depois de dormir. Cada vez mais na mesma. Porque o Inverno ainda acontece em Janeiro e a água ainda corre nos ribeiros. E, porque, quando tenho sede, bebo água da mesma fonte onde bebi ontem e todos os dias.
Os olhos pesam-me. É o tempo do sono.