8.5.06

28

28.
Amargamente me apercebo da hora tardia em que acordei. Até então vivi em sonhos. No paraíso de uma consciência liberta. Prazeres agora findos.
Já não há lugar para vícios inoportunos e excessivos.
Revejo a minha cara no espelho verdadeiro do mundo: este sou eu!, o ilusionado, o visionário acordado fora de tempo, o sonhador-poeta enovelado nas palavras mansas e arredias de tudo o que é vil e humanamente insustentável.
Não mereço nada do que tenho. Sanguessuga desde que nasci, até agora. Os meus olhos, agora (tarde) bem abertos, nada enxergam. A cor que vêem nas coisas é só sua, ficção ocular e frágil, mesmo assim.
Desfaleço. Ninguém me acode.
Há muito que não estava só.