8.5.06

29

29.
Porque se inventou o oriente? e as estações e o norte? Não nos basta, não basta aos homens, ver o Sol nascer e orientarmos os passos por onde ele vai. É sempre preciso inventar coisas humanas!
Prefiro nada saber dos números a saber alguma coisa deles. Não preciso deles e eles não precisam de quem eu sou.
Os meus números e letras são a quantidade de pétalas que vejo nesta flor ou as muitas ervas que admiro espalhadas por este outeiro abaixo.
Onde vivo não há número de porta. Não há morada. Porque a haveria de ter? Moro aqui, e quem me conhece sabe onde vivo sem precisar conhecer o endereço. É inútil, como quase tudo.
Moro onde me deito: nos descampados, nos vales, sobre a relva rasteira. A minha morada é onde eu estou, onde sei que existo e preciso estar.
Sou deste e doutros mundos.
Quem me quiser escrever mande uma carta para aquela estrela. Estarei lá, como estarei em todas as outras ao mesmo tempo.
Aquela casita branca é simplesmente o lugar onde me deito mais. É onde acordo dos meus sonhos. Estar nela é estar no mundo. Porque aquela casita branca é o mundo, pintado e com janelas.