8.5.06

31

31.
Se tudo o que existe estivesse à frente dos meus olhos então eu conheceria o mundo todo. Mas, como tal não acontece, e eu só vejo as poucas coisas que vejo, então, prefiro imaginá-las. Posso olhar este pequeno riacho e pensar todos os pequenos riachos do mundo. E, com isto, todas as outras coisas.
Por isso posso dizer que tudo está à frente dos meus olhos, porque tudo é em mim nesse momento. Sou todas as coisas. Mas não sou Deus. Ser Deus é não pensar em nada, porque já se pensou tudo.
Eu sou o oposto ao divino. Tudo o que vejo é novo aos meus olhos. Cada sopro de ar é um novo vento, cada gota de água caída das nuvens é chuva nova que nunca conheci. Por isso espero as chuvas de Inverno e quero reconhecer nelas a novidade: porque é outra chuva e eu sou outro que ontem não fui e que no próximo Inverno não serei.