8.5.06

34

34.
Sinto cansados os olhos. Reparo que me transportam para outros lugares, para outros escuros. Uma ligeira névoa. Cansaço. Um comprimido. Brota de mim esta insónia vigilante que não me larga. Que me fere, deixando-me vivo pela noite dentro. Olhos abertos, mente fechada, procuro num livro qualquer e um embalo do sono, um seu engano, uma rasteira.
Sento-me sobre a indiferença dos móveis. Apoio mãos e braços sobre coisas que não sei profundamente. Tacteio o espaço em volta sem respostas. Só o silêncio me acompanha, perturbado de vento e ruídos vários vindos da fundura de movimentos de mim desconhecidos. Sim. Desconhecidos de mim. E outras coisas.
Levanto-me e vagueio pelo quarto procurando uma brisa que saia de mim. Nada encontro. Não sou o mar nem as árvores, reconheço. Mas sei que o mar e as árvores e tudo o que se move e faz ruído estão em mim. Porque sou eles, sendo eu. E porque eles são eu, enquanto eles.
Confundo-me a cada passo e a cada gesto que profiro. Os meus olhos vagueiam por um sono elástico que não cede, que não verga à força de cansaço. Estão contra mim estes meus olhos. E reconheço já uma cegueira futura que invadirá os meus dias de senilidade. E tenho medo. Horas estranhas para pensar no futuro. Amanhã, talvez fosse melhor.