8.5.06

35

35.
A água onde lavo as mãos está fria. Um arrepio todo me percorre, e estremeço pensando nas aves que dormem ao relento. E que se lavam nas águas das ribeiras e que não se arrepiam por isso. Furioso, levo as mãos à cara e todo me encharco. Quase desfaleço com tremores. Sinto inveja dos pássaros e resigno-me à condição de homem com que nasci.
Oiço uma orquestra de flautas e o arrepio volta. O sopro, o vento, a água fria que escorre dos beiços de quem sopra. E o arrepio.

Soalheira, 1989/90