8.5.06

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2.
Ainda ontem abri a janela e reparei no mundo. Quão belo é o mundo. Tem árvores. E floresta, quando as árvores são muitas. Tem ondas. E mar, quando as ondas são muitas. Tem vento. E tempestades, quando é muito o vento. Tudo isto é o mundo, todas as pedras! Tantas pedras, incontáveis, num espaço tão pequeno (aos olhos do Sol). O Sol é muito maior. Mas não tem pedras. Nem, tampouco, vento. Mas não interessa. O que importa é que é Sol, e que está vivo, e que tem uma luz radiante e quasiterna – quase eterna, leia-se. Amo o Sol como amo as coisas da terra. Digo as coisas, e não as pessoas. Que fique bem claro. Amo as coisas e pronto, não se fala mais nisso. Mas há coisas de que não gosto. O pôr do Sol. Porque não é dia todos os dias? Esta é a coisa de que não gosto. Também gosto só um poucochinho do frio. Porque as mãos não podem andar cá fora, em liberdade. Ficam frias e depois não consigo escrever.
Agora não está frio e, por isso, as minhas mãos escrevem mais depressa enquanto o Sol não se vai embora por hoje. Não queria que o Sol se fosse embora. Eu também não me vou embora dele.