8.5.06

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Dissipam-se-me as dúvidas. O meu lugar é ainda aqui. O meu lugar físico, diga-se. Porque, quanto ao resto, ainda não sei se aqui pertence. Porque me olho e estou, de facto, neste lugar. Aqui. Sou nos lugares onde me sento, no chão que piso, nos toques nas pedras a que procedo. Sou, e não me engano. Sou, e não me iludo de que este é o meu lugar.
A minha estratégia é respirar. Encher-me de lugares, de paisagens, de mundanidades. O meu caminho é aceitar que vivo, e participar. A minha fábula é o que, aos meus olhos, acontece. Essas histórias são a minha história. Oiço a sua música e respiro com ela. Porque os acordes todos estão dentro de mim, e eu neles. Porque há horizontes que construo fora de mim. Fora de mim porque são meus. Tudo. Tudo é meu enquanto eu vivo. Mas só enquanto isso acontecer. Porque depois... depois não sei mais. Vou emprestar o meu corpo à terra, e dela, talvez, fazer nascer um fruto da minha casta. Igual a tantos outros. Mas isso, só quando estiver cansado. Ainda bebo água com sofreguidão quando há calor. E, se isso acontece, é porque ainda não valeu a pena morrer. O corpo o dirá, um dia.